resoluções de ano novo

Primeiro regresso-a-casa-depois-de-um-dia-de-trabalho do ano, na companhia da rádio de sempre, e uma voz familiar: «Vá, conte lá, já quebrou alguma resolução de ano novo? Nesse caso...não se preocupe, elas existem para isso mesmo!»

Sim, não se preocupe, sobretudo se não as pensou, se não as escreveu, se não as partilhou. As típicas resoluções de ano novo, tão de costume quanto as badaladas contadas em passas, mão na nota e brinde a pular da cadeira. Nada contra as tradições, muito pelo contrário, delas reza a história que é de todos nós. Só não a história que é só nossa.

As resoluções geralmente começam com balanços. E se um fim de ano não dá que balançar...depois vem o impasse de ir ou ficar, que é como quem diz, o medo e a dúvida entre não fazer nada ou mudar. Claro está, a entrada em grande de um ano a estrear dá o empurrão à vontade de agir e de lá surge a resolução. Este ano quero. Este ano tenho de. Este ano vou.

Aos atrevidos, boa sorte. Aos outros, um truque. Menos importa o que escolhemos conquistar, mais vale na verdade a transformação que ocorre em nós enquanto percorremos o caminho até lá chegar. Um fim de ano é tempo apertado para travar e vencer o braço de ferro com o que há muito não está bem e nunca se diz a ninguém. Assim de repente o entusiasmo pode ter prazo nem de seis meses e está perdida a luta… Porque não experimentar antes a liberdade de dar a mão ao que pode ser melhor em cada dia, nesse balançar que se chama equilíbrio? Lembrar que o que pode ser melhor já começou, lá trás, na vida, e cá dentro, em nós. É questão de sentir e acreditar. As verdadeiras resoluções não se quebram porque acontecem assim, em cada despertar, quando se decide em voz baixa e coração ao alto o que é importante continuar a fazer para chegar mais perto de quem se descobre ser.

Sem resoluções, com votos de transformação, bom ano.

Marta Faria

as reflexões da marta

Tradicionalmente, o início do ano inspira os novos projetos. Lançámos um desafio à psicóloga do serviço de atendimento e acompanhamento social para, mensalmente, publicar um pequeno texto inspirador. Com que objetivo? Promover a reflexão sobre a vida, o trabalho, as relações, as pessoas, os sentimentos... de forma positiva e construtiva. Principalmente, de forma real e sem grandes fantasias. 

Porquê a Marta? Porque a Marta tem um dom: o de escrever com alma. As histórias de vida do felizidade foram escritas pela Marta. Naquela altura, uma participação voluntária; hoje a Marta integra a equipa de trabalho do Abrigo. E sim, já sabíamos que ao desafio lançado, a resposta seria positiva. É com orgulho que apresentamos as "Reflexões da Marta" e que as partilhamos. Porque o que é bom, partilhado, torna-se melhor! 

A primeira reflexão da Marta é sobre as resoluções de ano novo. Se espera uma lista de coisas saudáveis a fazer, uma receita milagrosa, considerações sobre um mundo bonito, mágico e cor de rosa... não pense nisso. Os textos da Marta têm uma característica única: são reais. Falam da vida e das pessoas, do dia-a-dia e do que nos é comum. As reflexões da Marta são sobre um mundo que nos é familiar. Convidamo-lo mensalmente a acompanhar as reflexões da Marta na página do Felizidade. Vai ver que vai gostar. 

ai como é belo

 

à luz da lua
ouvir-se um fado em plena rua 
sou cantador apaixonado
vibrando as cordas
a cantar o fado.

Assim se cantou na noite de fados do Porto de Abrigo. Podemos dizer que o jantar estava óptimo, que os fadistas e guitarristas convidados eram extemamente talentosos, que as sobremesas eram divinais e que o nosso serviço, que não é profissional, foi mais que perfeito. As pessoas estavam em casa, contentes por cá estar e por receber os seus familiares. 

No fim da noite, além dos inúmeros agradecimentos dos familiares, recebemos a melhor recompensa de todas, a evidência de que estamos a conseguir o que nos propusemos com a abertura de um lar de idosos: o nosso Porto de Abrigo é uma casa acolhedora onde as pessoas se sentem bem e vivem felizes, uma casa com pessoas especiais a trabalhar e a cuidar diariamente com o coração...  

Nos rostos da equipa de trabalho do Abrigo era evidente a ternura e a alegria de fazer parte de um momento feliz. Foi disso que se tratou: proporcionar um momento feliz. Terminamos com uma certeza: a noite de fados está a enraizar-se como uma tradição do Porto de Abrigo. Uma tradição quase solene... porque à luz das velas e em silêncio partilhamos a beleza da nossa memória colectiva, da nossa música. Na noite de fados do Porto de Abrigo criamos boas recordações. Sem qualquer dúvida, para o ano há mais!

que desfolhada!

Isto de desfolhar tem muito que se lhe diga. 
Há que semear o milho. Há que o cuidar.
Quando o milho está seco, é preciso apanhá-lo. Cortam-se as canas.
Constróem-se moreias.
Há que estar vestido a rigor. 
Desfolham-se as espigas ao som das cantadeiras.
Enchem-se os cestos.
Aparece uma espiga vermelha, todos sabem é o "milho rei"...
Há abraços a quem desfolha. Antigamente era uma das poucas alturas em que aos rapazes namoradeiros era permitido abraçar as raparigas...
Não há desfolhada sem serandeiro. Escondido pelo manto e pelo silêncio com que se envolve, faz-se anunciar pelo ramo de cheiro. Ninguém sabe quem ele é. Diz-se que era alguém que aproveitava o pretexto da desfolhada e do disfarce para conseguir falar com a sua amada... 
Embora possa parecer uma festa, como tarefa agrícola a desfolhada é um trabalho duro e cansativo. Deve ser por isso que a tradição obriga a que haja também música, boa disposição, bailarico e, claro, vinho e broa.
Recolhe-se a folhagem.
Guarda-se o milho.

No Abrigo, temos a sensação que a desfolhada passa num sopro... restam-nos as fotografias que ficaram mesmo giras!

partilha de boas práticas

Viver uma revolução é passar por uma experiência transformadora. Tanto mais quando a partilhamos. Ontem foi um desses dias. O Porto de Abrigo acolheu o encontro de técnicos de psicologia, que regularmente reúne para promover a articulação entre as diversas instituições do concelho através do contato com projetos e da discussão de temáticas em diversas áreas. 

A organização deste encontro esteve a cargo do Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social do Abrigo e a escolha do tema a abordar surgiu de modo natural - a experiência Humanitude no Abrigo. Em tempos de exigência e trabalho intenso, as dificuldades sentidas são comuns com outras instituições e importa encontrar continuamente inspiração que renove a motivação para continuar a fazer o que diariamente fazemos: cuidar de pessoas e apoiar as suas famílias.

E se havia inspiração em casa… 

Sim, estivemos à conversa sobre a Humanitude. Porquê?

Porque encontramos nesta filosofia de prestação de cuidados a pessoas, pontes comuns com a psicologia.  

É certo que reunimos profissionais que atuam em contextos diversificados, mas com o objetivo comum de promover o bem-estar. E não há mensagem impossível de entender quando se utiliza uma linguagem comum: pequenos detalhes fazem a diferença e têm um impacto muito positivo, não só em quem é cuidado, mas em quem cuida…ainda deve estar por surgir melhor instrumento de trabalho do que a relação de confiança que se pode estabelecer com alguém. 

Obrigada pela visita*. Foi com muito gosto que partilhamos a experiência desta revolução. Esperamos que se tenham sentido bem na nossa casa. 

*

Zélia Malta - Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga

Ana Paula Sousa - Unidade de Saúde de Santa Maria da Feira

Mónica Dias - Associação de Alcoólicos Recuperados e Centro Social de Lourosa

Liliana Ferreira - Associação de Bem-Estar de Santa Maria de Lamas

Catarina Pereira e Ana Carla Garcia - CerciLamas

Isabelle de Almeida - Centro Social de São Tiago de Lobão

Sara Bastos - Rosto Solidário e Associação Pelo Prazer de Viver

humanitude

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