se é para falar de amor
Que seria dos meses que nos enchem os anos sem dias “disto e aquilo” para contrariar o hábito de esquecermos quão especial é cada um. Sim, todos os dias são mesmo especiais. Um exemplo? Perguntar pelo último Natal e… «o Natal é isto, no dia-a-dia, estarmos assim. Mas correu bem, o Natal».
Pois é, a vida é de viver a sentir. E sentir não vem com data marcada. Mas depois também há a vida de viver a correr. E então talvez seja preciso quebrar a rotina, só para garantir que ficamos de olho no que realmente importa. De maneira que nem parece mal pensado haver dias “disto e aquilo”, a não ser que os tenha de haver no calendário para avisar de guardar tempo para sentir. Nesse caso mais vale deixar de correr, em vão.
Gosto da vida de viver a sentir, como se fosse uma espécie de coleção particular de memórias sem data de entrega e prazo de validade, onde é sempre Natal. Portanto costumam passar ao lado datas comemorativas de produção em série. Mas saindo à rua já se vê que é Fevereiro. Vamos lá a isso. Se é para falar de amor, comecemos pelo próprio.
Não se zangue o padroeiro nosso, mas o Saint do amor poderia bem ser Exupéry. Não que o amor se aprenda em livros cor-de-rosa. Antes pela história de um principezinho e da simplicidade com que se ensina o que é isso do amor: do tempo que se constrói desde o conhecer até ao encantar, da partilha que transforma o esperar em confiar, do todo que é mais do que a soma das partes. O amor começa em nós, por nós. Leva-nos dentro, de verdade, a descobrir-nos cada canto e aceitar-nos imperfeitos, sem pressas. Não faz mal ter arestas tortas, que o puzzle há-de encaixar-se de algum jeito. Verdade que peças mais pequenas levam mais tempo a fazer sentido, mas são as que juntam mais detalhe e por isso, ao encontrar o lugar certo, se apreciam melhor. Tal qual a sombra secreta que somos quando o sol nos espreita de fugida. Certos dias nem nós a vemos, mas tudo bem, que o sol há-de voltar, uma e outra vez. Mais a mais, o que nos é único não é para se andar assim, sempre a mostrar, não vá se perder.
E o amor cura, se o soubermos seguir. Mais ou menos como no filme do pirata que se aventura em busca do tesouro que não foi escrito nos mapas. Nem precisa, porque tem uma bússola. A bússola. Guiada pelo norte do coração. Tentamos? Basta parar, aqui e agora. Fechar os olhos, para ver por dentro e encontrar(-se). E seguir por aí, onde o nosso amor estiver.
Marta Faria